Um carteiro e quarenta assaltos: reflexões sobre o estresse pós-traumático relacionado ao trabalho à luz da teoria do desgaste mental
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.cpst.2023.198047Palavras-chave:
Saúde mental relacionada ao trabalho, Transtornos de estresse pós-traumático, Saúde mental, Saúde do trabalhador, Desgaste mentalResumo
O artigo objetiva analisar o processo de constituição do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) relacionado ao trabalho de um carteiro que foi submetido a inúmeros assaltos durante sua jornada laboral. O trabalhador foi atendido em psicoterapia individual durante dois anos em uma clínica, período em que os dados foram registrados em relatórios clínicos e posteriormente analisados. Evidencia-se, com apoio da teoria do desgaste mental, que o desgaste, multideterminado, ocorreu em um processo complexo, marcado pelas violências às quais ele foi submetido no trabalho. Além da violência expressa nos assaltos, temos as violências da negligência e da desconfiança presentes na organização do trabalho, que, operando de forma conjugada, resultaram na instalação do quadro. A análise refuta o argumento da inviabilidade da prevenção do TEPT relacionado ao trabalho. Revela-se que é possível enfrentar a produção do transtorno por meio da oferta de condições de trabalho que promovam segurança e que não negligenciem os riscos de assaltos, de modo que a violência vivida não seja negada, nem transformada em desconfiança dirigida aos trabalhadores.
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