Orientadores no Instagram: crise acadêmica e uberização da práxis do pesquisador
DOI:
https://doi.org/10.1590/S1678-4634202349261414Palavras-chave:
Capitalismo, Ciência, Pesquisa, Rede Social, TrabalhoResumo
Em meio ao uso cada vez maior da Internet nas várias esferas da vida, constatou-se a existência da oferta de serviços de orientação de pesquisas acadêmicas nas redes sociais. Ao refletir acerca das possíveis contradições e efeitos que essa prática pode trazer à ciência brasileira, este estudo definiu, como objetivo, analisar os perfis de pesquisadores que oferecem orientação acadêmica na rede social Instagram. A pesquisa tem caráter exploratório, com abordagem qualitativa, realizando a análise de conteúdo das mensagens presentes na bio dos perfis da referida rede social e sustentada na teoria social marxista. Constatou-se a maior presença de pesquisadores do gênero feminino, ligados às áreas das ciências humanas e sociais, desempregados, com vínculos empregatícios temporários ou, exclusivamente, empreendedores. As mensagens da bio dos perfis apontam para três núcleos de conteúdo: orientação/ajuda na realização da pesquisa; descomplicação/facilitação/aceleração da pesquisa e execução da pesquisa ou de etapas dela. Este estudo sugere que o fenômeno está imbricado à crise acadêmica hoje experimentada no Brasil, que, por sua vez, está organicamente associada às expressões da crise estrutural do capital, a exemplo do crescente processo de uberização do trabalho, também alcançando a práxis dos pesquisadores.
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