A CRIANÇA INTEGRAL E AS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO

Autores

  • Alberto Olavo Advíncula Reis Faculdade de Saúde Pública da USP.

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.37411

Resumo

A confrontação das teorias do desenvolvimento psicológico, propostas por Jean Piaget e Henri Wallon respectivamente, enseja a possibilidade de se discutir o limite e o alcance dessas teorias na apreensão mais global, holística, da criança. Não se trata, neste artigo, de superar, como o faria um ensaio orientado fenomenologicarnente, os limites próprios a toda e qualquer redução teórica, mas, antes, de compreender a articulação teórica passível de garantir uma compreensão
mais global da criança e do adolescente em desenvolvimento.
O cotejarnento das teorias desses dois autores marcados por semelhanças, amizade, trocas, mas, igualmente, por diferenças instigantes, propicia ocasião para que se pense sobre o modo fundamental como são concebidos e o lugar que ocupam os diferentes registros do desenvolvimento
psicológico humano: o biológico, o mental e o social Apesar dos interesses divergentes que ambos pesquisadores manifestaun no tocante aos próprios sujeitos - Piaget interessando-se, exclusivamente, pelo sujeito epistêmico, estudando as leis subjacentes ao desenrolar do desenvolvimento cognitivo, enquanto Wallon interessava-se pelo sujeito psicológico, interrogando-se sobre o grande embate entre o social e o biológico nos processos de transformação da totalidade da criança -, ambos farão referências às mesmas dimensões do desenvolvimento
Entretanto, se a afetividade, enquanto se revela como uma dessas dimensões, é entendida por Piaget apenas como uma energética da ação sem poder ocupar nem um lugar preponderante no curso do desenvolvimento e nem desempenhar um papel estruturante do mesmo, bem diferente
será a concepção de Wallon.
A emoção, forma larvária da afetividade, ocupará na concepção walloniana do desenvolvimento uma posição central, posto que será dela a função elementar de conectar o bebe, mergulhado
em sua impotência orgânica, ao seu meio humano. A unidade criança-meio humano será uma unidade de partilha emotiva. E a partir dessa relação, anterior com o social, que a criança
dirigir-se-á, em seguida, para o mundo dos objetos, instalando-se, só então, no interior de uma lógica sensório-motora. Para Piaget, a indistinção das dimensões sociais e físicas na sua compreensão do mundo objetal, isto é, do meio em relação ao qual a criança tentará se adaptar, Ihe
permitirá descrever uma trajetória distinta. Com efeito, o biológico é considerado, por este pesquisados, como o ponto inicial de todo desenvolvimento e o social como o ponto final, sendo o mental o processo mediano entre esses dois estados. Tanto desta posição quanto do inegável privilegiamento dado por Piaget à observação dos reflexos exteroceptivos (que, para ele, são os exercícios reflexos da primeira sub-etapa do nível sensório-motor), decorre o falo dele ter a concepção de uma criança que liga-se, primeira e diretamente, ao mundo dos objetos físicos e que a partir da ampliação deste universo físico descobre o mundo social.
Não há grande sentido em repetir as indagações sobre o maior ou menor espaço concedido ao registro do social, do afetivo, do lógico ou do cognitivo em outra teoria. A questão que se pode colocar é a de saber em que dimensão tais registros se articulam, visto que a ordem desta articulação, e não o cômputo dos elementos em jogo, permitiria uma aproximação mais completa e global da criança em desenvolvimento.

Biografia do Autor

  • Alberto Olavo Advíncula Reis, Faculdade de Saúde Pública da USP.
    Professor assistente do Departamento de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública da USP.

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Publicado

1991-06-19

Edição

Seção

Artigo de Opinião