Jörn Rüsen contra a compensação

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2447-9020.intelligere.2017.126698

Palavras-chave:

teoria da história, modernização, futuro, ciências humanas, formação, filosofia alemã, século 20, Joachim Ritter, Odo Marquard

Resumo

Compensação” é a palavra-chave que sintetiza uma influente resposta ao problema da função das ciências humanas no mundo contemporâneo. Originária do universo da filosofia alemã da segunda metade do século 20, tal resposta sustenta, em linhas gerais, que as ciências humanas servem como uma espécie de indenização espiritual por prejuízos culturais causados pela modernização a sociedades e indivíduos (no bojo, por exemplo, da disseminação de novas relações sociais abstratas e não-tradicionais, ou do acelerado progresso dos meios técnicos). A teoria da compensação pode ser apontada como um dos principais conjuntos de ideias a que se contrapõe a teoria da história de Jörn Rüsen. O presente texto enfoca a relação agonística entre essas duas teorias, no centro das quais está o problema do valor e da utilidade dos estudos históricos. Lançar luz sobre tal relação – esta é a minha aposta interpretativa – é uma maneira de compreender melhor aspectos importantes das reflexões de Rüsen sobre história e historiografia que até agora ainda não receberam a atenção que lhes é devida. Quero mostrar que Rüsen rejeita a teoria da compensação não só porque discorda da divisão do trabalho científico nela apregoada, a qual atribui às ciências humanas o papel relativamente modesto de tentar conservar alguma parte daquilo que a modernização ameaça destruir. Procurarei explicar como tal rejeição também se deve a diferenças mais fundamentais existentes entre Rüsen e os teóricos da compensação, mais especificamente, às suas divergências de entendimento quanto à natureza da modernidade e quanto ao modo de configurar a complexa inter-relação entre conhecimento, política e futuro.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Ankersmit, Frank, Historical Representation (Stanford: Stanford University Press, 2001).

Assis, Arthur, A teoria da história de Jörn Rüsen: uma introdução (Goiânia: Ed. UFG, 2010).

Assis, Arthur Alfaix; Mata, Sérgio da, “Prefácio: O conceito de história e o lugar dos Geschichtliche Grundbegriffe na história da história dos conceitos”, in: R. Koselleck et al., O conceito de história (Belo Horizonte: Autêntica, 2013), 9-34.

Barom, Wilian Carlos Cipriani, “A teoria da história de Jörn Rüsen no Brasil e seus principais comentadores”, História hoje, v. 4, n. 8, 2015, 223-246.

Boellenbeck, Georg, Bildung und Kultur. Glanz und Elend eines deutschen Deutungsmusters (Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1996).

Caldas, Pedro Spinola Pereira, “A arquitetura da teoria. O complemento da trilogia de Jörn Rüsen”, Fênix. Revista de História e Estudos Culturais, v. 5, n. 1, 2008.

Cancik, Hubert, “Entrohung und Barmherzigkeit, Herrschaft und Würde. Antike Grundlagen von Humanismus”, in: Streit um den Humanismus, org. Richard Faber (Würzburg: Könighausen und Neumann, 2003), 23-42.

Carr, David, “History as Orientation: Rüsen on Historical Culture and Narration”, History and Theory, v. 45, n. 2, 2006, 229-243.

Fischer, Andreas (diretor), Söhne ohne Väter. Vom Verlust der Kriegsgeneration, 79 min (Alemanha: Moraki Film, 2007).

Frei, Norbert, 1968. Jugendrevolte und globaler Protest (Bonn: BpB, 2008)

Groot, Jerome de, Consuming History: Historians and Heritage in Contemporary Popular Culture (London: Routledge, 2009).

Habermas, Jürgen, O discurso filosófico da modernidade: doze lições (São Paulo: Martins Fontes, 2000).

Habermas, Jürgen, Técnica e ciência como ‘ideologia’ (Lisboa: Edições 70, s/d).

Hacke, Jens, Philosophie der Bürgerlichkeit. Die liberalkonservative Begründung der Bundesrepublik (Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 2008).

Jong, Henk de, “Historical Orientation: Jörn Rüsen’s Answer to Nietzsche and His Followers”, History and Theory, v. 36, n. 2, 1997, 270-288.

Kaube, Jürgen, “Wir Menschen sind stets mehr unsere Zufälle als unsere Wahl. Zum Tod Odo Marquards”, FAZ, 11.05.2015.

Kersting, Wolfgang, “Hypolepsis und Kompensation - Odo Marquards philosophischer Beitrag zur Diagnose und Bewältigung der Gegenwart“, Philosophische Rundschau, v. 36, n. 3, 1989, 161-186.

Kuhn, Annete, “Interview geführt von Thomas Sandkühler” [23. Oktober 2012], in: Historisches Lernen denken: Gespräche mit Geschichtsdidaktikern der Jahrgänge 1928-1947, org. Thomas Sandkühler (Göttingen: Wallstein, 2014), 164-192.

Liechtenstein, Ernst, “Bildung”, in: Historisches Wörterbuch der Philosophie, Band 1, org. Joachim Ritter (Basel: Schwabe & Co., 1971), 921-937.

Lima, Caio Rodrigo Carvalho, Além dos muros da academia: sentido da história e trauma histórico na obra de Jörn Rüsen – 1983-2013 (Dissertação de mestrado em História, Universidade de Brasília, 2016).

Lübbe, Hemann, Geschichtsbegriff und Geschichtsinteresse. Analytik und Pragmatik der Historie [1977] (Basel: Schwabe, 2012).

Lübbe, Herman, Filosofía práctica e teoría de la historia (Barcelona: Alfa, 1983).

Marquard, Odo, "Ritter, Joachim", Neue Deutsche Biographie 21, 2003, 663-664.

Marquard, Odo, “Verspätete Moralistik. Bemerkungen zur Unvermeidlichkeit der Geisteswissenschaften”, FAZ, 18.03.1987.

Marquard, Odo, Abschied vom Prinzipiellen. Philosophische Studien (Stuttgart: Reclam, 2010).

Marquard, Odo, Apología de lo contingente. Estudios filosóficos (Valencia: Institució Alfons el Magnanim, 2000).

Marquard, Odo, Philosophie des Stattdessen: Studien (Stuttgart: Reclam, 2000).

Marquard, Odo, Schwierigkeiten mit der Geschichtsphilosophie. Aufsätze (Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2002).

Marquard, Odo, Skepsis in der Moderne. Philosophische Studien (Stuttgart: Reclam, 2007).

Martins, Estevão de Rezende, “Consciência histórica, práxis e cultura. A propósito da teoria da história de Jörn Rüsen”, Síntese (Nova fase), v. 19, n. 56, 1992, 59-73.

Mata, Sérgio da, “Marquard, Odo. Las dificultades con la filosofía de la historia” (Resenha), História da Historiografia 1 (2008), 108-114.

Megill, Allan, “Jörn Rüsen’s Theory of Historiography between Modernism and Rhetoric of Inquiry”, History and Theory, v. 33, n. 1, 1994, 39-60.

Mittelstrasss, Jürgen, Glanz und Elend der Geisteswissenschaften (Oldenburg: Bibliotheks- und Informationssystem der Universität Oldenburg, 1989).

Moses, A. Dirk, German Intellectuals and the Nazi Past (Cambridge: Cambridge University Press, 2007).

Nietzsche, Friedrich, Escritos sobre história (Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2005).

Olsen, Niklas, History in the Plural. An Introduction to the Work of Reinhart Koselleck (New York: Berghahn, 2012).

Pandel, Hans-Jürgen, “Interview geführt von Thomas Sandkühler” [10. August 2012], in: Historisches Lernen denken: Gespräche mit Geschichtsdidaktikern der Jahrgänge 1928-1947, org. Thomas Sandkühler (Göttingen: Wallstein, 2014), 326-356.

Ritter, Joachim, Subjetividad. Seis ensayos (Barcelona: Alfa, 1986).

Rüsen, Jörn, “Auf dem Weg zu einer Pragmatik der Geschichtskultur”, in: Geschichts-Erzählung und Geschichts-Kultur. Zwei geschichtsdidaktische Leitbegriffe in der Diskussion, orgs. Ulrich Baumgärtner & Waltrud Schreiber, München: Herbert Utz Verlag, 2001, 81-97.

Rüsen, Jörn, “Die Karriere eines Aussenseiters (Gespräch mit Anja Berger)”, in: Karrieren unter der Lupe: Geschichtswissenschaftler, org. Anja Berger (Würzburg: Lexika, 2002), 28-37.

Rüsen, Jörn, “Geschichte und Utopie”, in: Handbuch der Geschichtsdidaktik, org. Klaus Bergmann et al. (Seelze: Kallmeyer, 1997), 76-80.

Rüsen, Jörn, “Interview conducted by Ewa Domanská” [11.11.1993], in: Encounters: Philosophy of History after Postmodernism, org. Ewa Domanská (Charlottesville: University Press of Virginia, 1998), 138-165.

Rüsen, Jörn, “Interview geführt von Thomas Sandkühler”, in: Historisches Lernen denken: Gespräche mit Geschichtsdidaktikern der Jahrgänge 1928-1947, org. Thomas Sandkühler (Göttingen: Wallstein Verlag, 2014), 251-292.

Rüsen, Jörn, “Kritik des Neohistorismus”, Zeitschrift für philosophische Forschung, v. 33, n. 2 (1979), 243-263.

Rüsen, Jörn, “Pode-se melhorar o ontem? Sobre a transformação de passado em história”, in: História, verdade e tempo, org. Marlon Salomon (Chapecó: Argos, 2011), 259-290.

Rüsen, Jörn, “Theory of History as Aufklärung. Interview conducted by Sérgio da Mata e Valdei Lopes de Araújo”, História da Historiografia, n. 11, 2013, 339-353.

Rüsen, Jörn, Cultura faz sentido. Orientações entre o ontem e o amanhã (Petrópolis: Vozes, 2014).

Rüsen, Jörn, História viva. Teoria da História III: formas e funções do conhecimento histórico [1989] (Brasília: Ed. UnB, 2007).

Rüsen, Jörn, Razão histórica. Teoria da história I: os fundamentos da ciência histórica [1983] (Brasília: Ed. UnB, 2001).

Rüsen, Jörn, Reconstrução do passado. Teoria da história II: os princípios da pesquisa histórica [1986] (Brasília: Ed. UnB, 2007).

Rüsen, Jörn, Teoria da história: Uma teoria da história como ciência [2013] (Curitiba: Ed. UFPR, 2015).

Rüsen, Jörn, Zerbrechende Zeit. Über den Sinn der Geschichte (Köln: Böhlau, 2001).

Schluchter, Wolfgang, “Politeísmo dos valores: uma reflexão referida a Max Weber”, in: A atualidade de Max Weber, org. Jessé Souza (Brasília: Ed. UnB, 2000), 13-48.

Schnädelbach, Herbert, “Kritik der Kompensation”, Kursbuch, n. 91, 1988, 35-45.

Scholtz, Gunter, Zwischen Wissenschaftsanspruch und Orientierungsbedürfnis. Zu Grundlage und Wandel der Geisteswissenschaften (Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1991).

Schulz, Hermann; Radebold, Hartmut; Reulecke, Jürgen, Söhne ohne Väter: Erfahrungen der Kriegsgeneration (Berlin: Ch. Links Verlag, 2009).

Schweda, Mark, Entzweiung und Kompensation. Joachim Ritters philosophische Theorie der modernen Welt (Freiburg: Alber, 2013).

Seifert, Jürgen, “Joachim Ritters ‘Collegium Philosophicum’”, in: Kreise – Gruppe – Bünde. Zur Soziologie modernen Intellektuellenassoziation, org. Richard Faber; Christine Holste (Würzburg: Könighausen & Neumann, 2000), 189-198.

Silva, Luiz Sérgio Duarte da, “Ação comunicativa e teoria da história: aproximação de Habermas e Rüsen”, Philósophos, v. 5, n. 2, 2000, 145-161.

Watson, Peter, The German Genius. Europe’s Third Renaissance, the Second Scientific Revolution, and the Twentieth Century (London: Simon & Schuster, 2010).

Weber, Max, Ensaios de sociologia (Rio de Janeiro: LTC, 1982).

White, Hayden, “The Burden of History”, History and Theory, v. 5, n. 2, 1966, 111-134 (114-123). O próprio White é hoje o mais famoso continuador dessa tradição de crítica da historiografia.

White, Hayden, “The Practical Past”, Historein, v. 10, 2010, 10-19 (13-15).

Wiklund, Martin, “Além da racionalidade instrumental: sentido histórico e racionalidade na teoria da história de Jörn Rüsen”, História da Historiografia, n. 1, 2008, 19-44.

Downloads

Publicado

2017-11-27